quinta-feira, 30 de maio de 2013

O EQUILÍBRIO SOCIAL


Encanta-nos o equilíbrio ecológico, que garante a autossustentação da natureza. Um dos eventos mais evidentes é o equilíbrio das taxas de oxigênio e de gás carbônico na atmosfera: as plantas e os animais respiram o tempo todo e, assim, retiram oxigênio do ar e lançam gás carbônico. Por que, então, o oxigênio não acaba e, em seu lugar, a atmosfera passa a ter gás carbônico? Qual seria a consequência disso? Por que isso não acontece? A mente inteligente que criou a natureza sabia que a vida não suportaria esse gradiente ecológico. Então as plantas e outros organismos fotossintetizantes invertem o processo: consomem gás carbônico e liberam oxigênio para a atmosfera. É tudo o que a natureza precisa para agregar a outros fatores e eventos igualmente inteligentes e suportar a vida, de forma cíclica e permanente.
Observando pessoas simples envolvidas com tarefas pouco qualificadas, somos induzidos a pensar no porquê dessa realidade. Por que essas pessoas, muitas ainda jovens, saudáveis, de porte elegante, livres de deficiências perceptíveis, não galgaram posições mais evadas na escala do trabalho? Perguntadas, algumas certamente responderiam: “Não tive oportunidade. Minha família era pobre e tive que abandonar os estudos cedo, para trabalhar. Em seguida, constitui família, vieram filhos e outros encargos e responsabilidades que me impediram de avançar, em busca de melhor qualificação”. Interessante é observar que outros avançaram, se qualificaram, se especializaram justamente para prevenir tal situação ou impulsionados por igual realidade. Outros se justificariam alegando a falta de recursos para continuar os estudos e pagar uma faculdade, sem se lembrar que algumas faculdades públicas estão à sua disposição. Alguns, contrariando essa visão imediatista, precipitada e, talvez, preconceituosa, realizam atividades pouco qualificadas exatamente para bancar seus estudos e alcançar metas audaciosas.
Nesse ponto, então, nos perguntamos: se todos tivessem essa visão, que julgamos correta e adequada, e aproveitassem as melhores oportunidades de qualificação que lhes são oferecidas, como seria a sociedade? Quem faria aquelas tarefas que julgamos menos qualificadas, mas tão necessárias? Quem dirigiria os ônibus e os transportes de massa que transportam milhares de pessoas para que as necessidades da sociedade sejam atendidas? Quem auxiliaria os profissionais altamente qualificados que cuidam da nossa saúde, da educação dos nossos filhos, da garantia dos nossos direitos, da construção das nossas moradias? Quem auxiliaria as famílias nas tarefas domésticas e criação dos filhos para que os profissionais “de ponta” possam atender nossas necessidades imediatas ou de médio e longo prazo? Quem se ocuparia do árduo trabalho de cultivar a terra e produzir as lavouras que abastecem nossas mesas? Quem recolheria o lixo das nossas casas e cidades, protegendo a nossa saúde? Essa reflexão parece interminável, do ponto de vista da sua pertinência, mas nos conduz à conclusão de que somos todos igualmente valiosos e necessários. Percebemos que a sociedade tem regras próprias para seu equilíbrio, assim como a natureza, o que garante sua autossustentação, sem decretos ou imposição política. Cabe-nos, então, nos inserirmos neste contexto social e humano, exercendo nossa instrumentalidade como contribuição para o coletivo social, do qual fazemos parte.
FIDELCINO
Maio, 2013.

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